3.4.12

Sobre pessoas e rastros e eu

Você se senta sozinho num canto.
Um dia mais inútil que o outro, sempre.
Passa um avião louco no céu deixando um rastro de fumaça.
Tudo deixa rastros, é isso que as pessoas fazem.
As pessoas não são o que são, elas são esse tal do rastro.
Fica no inconsciente coletivo, acho, e por isso todo mundo sai por aí comprando fumaça pronta.
Providenciando o padrão!
Lançando repetição no céu... as nuvens ficam todas iguais.
Mas você não se vê como avião.
Você vê o avião e você sabe: esse não sou eu.
Você não tem turbinas, sua fumaça é regular como um arroto.
Não, não. Avião você não é.
Fica pensando:
Qual é o propósito de fingir que sou o que não sou?
É pra fazer os outros acreditarem ou é pra me fazer acreditar?
E ainda: o que é mais desonesto?
O que é mais lamentável?
Não há resposta.
O canto é frio e mudo, mas ainda é mais aconchegante que a mentira.
Por isso você permanece por alí mesmo, um trapo mal ajambrando de nariz entupido (e olhos entupidos e boca entupida e alma entupida também).

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