5.4.12

Olho de esguelha pro sol lá no alto. Meio dia em ponto, ele deve estar bem no meio do céu mesmo, bem no meio de tudo, bem no meio da minha insignificância.
O sol se mete pelas beiradas das roupas, o sol se mete nas ideias.
E o sol é uma bela mentira, se você quer saber a minha opinião.
O sol só faz carinho em quem tá longe. Eu odeio o sol.
Eu quis ir dar um abraço no desgraçado e o desgraçado me arrancou a pele.
Foi isso que ele fez...
Eu quis ir acampar sobre os ombros do desgraçado e o desgraçado descarnou o que sobrou de mim.
O sol é impiedoso como tudo o mais, o sol não permite aproximação.
E eu continuo insistindo, dando passinhos de formiga enquanto ele dorme.
Mas é que eu nunca vou saber se ele dorme mesmo ou não... eu não confio mais nem um pouco nem no sol e nem em nada.
É que tudo no céu é também mentira que eu já vi...
No zênite noturno tem um ponto brilhante.
E quem é que sabe? Provavelmente esse ponto já morreu há milhares de anos... tipo esse comichão que insiste em permanecer dentro do meu peito e o meu cérebro continua (toda hora) lhe gritando: Você já não existe mais, infeliz! Você já está mais que enterrado!
Mas ele continua coçando lá no fundo, pinicando, me deixando uma pilha de nervos.
Sou uma pilha de nervos agora meio-dia sob o sol.
Enfio cravos e anis e pimenta  e whisky por entre os entremeios dos meus dentes só pra sentir a boca inchar... só pra sentir alguma coisa que não seja o tal comichão.
É isso. É por isso que eu me jogo tipo kamikaze na bola de fogo distante.... deve ser por isso.
Que me arranque mesmo a superfície e que chegue logo no meu cerne pra me arrancar também as raízes de plantas ruins que ficaram por aí tentando estrangular meu coração, envenenar meu coração!... essas raízes, que minha mão não pode arrancar sozinha porque é fraca demais.

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