6.4.12

Sobre os acuados

De repente é o reverso.
De repente a gente sai da trincheira dando tirombaço pro alto.
O rabo entre as pernas virou uma bazuca, nós somos irreconhecíveis.
Minha pele é malhada de camuflagem.. e antes tão pálida!
A correnteza - impressionantemente - sempre corre pro lado que a gente rejeita.
[Ou vai ver que a gente é que corre pro lado que ela rejeita, vai ver que é a gente...
Que se a gente se deixar ir, a gente chega "lá" rápido demais e aí nada mais tem graça.]

A gente virou o avesso de tudo aquilo que a gente defendia.
Ou porque a gente não sabia do que tava falando ou porque é agora que a gente não sabe.
A gente não sabe mais. Eu aposto nisso.
Antes eu falava baixo e ninguém ouvia.
Agora eu falo alto, eu grito mesmo, só não sei se os berros têm qualquer valor... muito provavelmente não.
Muito provavelmente têm valor de escarro de calçada, daqueles que qualquer mendigo dá - daqueles que mendigo dá.
A gente trocou a implacabilidade da semente bem plantada (aquela que demora séculos pra dar o ar da graça) pelo imediatismo da bomba que só altera o agora.
E a bomba destrói, e a semente não.
E tem isso e a gente sabe mas a gente resolveu se dar o direito de sermos humanos, o direito de vermos as coisas acontecerem enquanto ainda estamos vivos e vermos o circo pegar fogo mesmo e o diabo.
O que penso é que talvez o tal do circo esteja cheíssimo de gentes.
Talvez esteja... e aí que me dá o nó.
Sinto uma vergonha enorme quando me retiro da sala de jantar antes da hora para tomar o terceiro banho do dia - quanto mais banhos melhor!
Sinto uma vergonha enorme da minha contradição.
Minha voz sempre desprezando o mundo só que o desprezo talvez fosse só inveja  porque despencou feito maquiagem barata quando eu deitei de noite pra dormir.
E assim me vejo lamentavelmente rastejando por debaixo dos criados mudos das casas de todo mundo, as casas de qualquer um que seja, com as fuças enfiadas nos carpetes imundos pedindo pra me darem um cantinho no sofá.
"Deverasmente" lamentável.
É quando passo na frente do espelho e me vejo com a poeira do chão dos outros entrando pelos olhos e o nariz, que não me conformo, que me sinto insultada pela gravidade que me fez agachar ali. E é aí que aquilo de que falei a princípio acontece: o sair da trincheira, a correnteza represada e agora livre, a perna que chuta involuntariamente por causa daquela questão do reflexo.
E acho que no fim das contas tudo se resume mesmo a isso: porrada e reflexo.
E aí eu saio atirando pro alto.

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