12.4.12

Um cara no deserto cuspindo

Sentou-se numa cadeira recostavel no meio do deserto.
A água da boca pingava no chão, escorria pelas rachaduras. Aí acabava e não sobrava nada nem cá e nem lá.
Do céu não caiu nada naquele dia, exceto uma gaivota de jornal que veio de sei lá onde.
As pessoas estão sempre lançando gaivotas aleatórias pro mundo. E as pessoas morrem e as gaivotas continuam procurando gaivotoporto para pousar - ninguém inventou essa bosta ainda.
As gaivotas tem mensagens no lombo que talvez um dia, pra alguém, fizeram sentido.
Mas a chuva (chuva de outro lugar, que aqui nunca chove) borrou tudo de desentendimento.
Ficou só mesmo foi a tinta rota para provar que algum dia alguém pensou qualquer coisa que fosse.

Pegou a gaivota com a duas mãos e espremeu tal fosse mosca de fim de tarde.
Mas era meio-dia e a gaivota era papel, não era mosca.
Vive nessa irrealidade de delírios, apesar de já ter tirado conclusões, após muitas andanças, de que oasis é conversa de pescador... e no deserto nem tem pescador e nem nada...! uma mentira pior que a outra! - era isso que pensava.
E pensava e cuspia e cuspia o pensamento e pensava o cuspe e aí de novo.
O resto de água que o corpo dá, ele joga no chão.. um babaca ingrato e insensível.
Mas essas cusparadas que parecem porcaria deliberada... essas cusparadas... vai saber... vai saber!?
Se algum dia alguém jogou um caroço alí, digamos assim, são esses cuspes mesmo que vão parir o tal do diacho. Não é?
Por isso continua cuspindo ao acaso, porque isso - pensa - dá menos trabalho que agachar no chão e olhar direito.

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