20.5.12

A menina olhava pro mundo e perguntava se os homens tinham tacado os prédios nele de avião.
Atirando prédios, feito fossem bombas - e eu acho é que são é bombas mesmo.
Tem dias que eu desacortino o véu de quinquilharias homo-sapianas e aí eu posso respirar.
A gente foi subindo hoje a montanha mais alta que a gente achou para subir.
E a gente se dependurava feito fossemos cabras daquelas que desconhecem a lei da gravidade e tudo.
A gente já não conhecia mais, simplesmente, essa coisa da lei da gravidade (e até mesmo as outras leis e os blablablás também).
Eu deixei de saber sentir minhas pernas e deixei de saber sentir o meu corpo.
Meu cérebro deixou de saber pensar e eu virei a mesma folha de um ramo qualquer que minhas mãos afastavam mecanicamente.
Eu virei uma nuvem, que ia assim engolindo as montanhas como se elas fossem ar também.
Eu virei esse ar, porque ele entrou pela minha garganta dessa vez de verdade, que nem que como ele entra pelas brenhas das pedras como se pedras não houvessem alí.
Jamais deixarei de voltar a ser gente - especificamente essa gente tonta que eu inevitavelmente sou - uma hora ou outra; jamais serei mais ar que gente, mais folha que gente, mais nuvem que gente.
Mas o cume da montanha mais alta está aí para pelo menos apagar das vistas os prédios que os homens cegos derramaram descompromissadamente de seus aviões e que andam afunilando meus olhos cada dia mais rumo a um caixote de mercado cheio de papelada inútil dentro.

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