18.5.12

Sobre Tribunais e Auto-Murros



“They look at us like we’re monsters.”
Chieko

Mais do que tudo, a monstruosidade é um medo.
Eles não pensam nada sobre nós, nós é que pensamos tudo sobre nós.
Eles nem enxergam a gente a maior parte do tempo... nem isso.
Eles percorrem os olhos pelo nosso rosto mas é só.
E, se é que eles pensam qualquer coisa, esse pensamento não é nada.
Não é nada nem pra gente e nem pra eles.
Mas o nosso (o nosso pensamento), sim.
A gente corre pro banheiro pra chorar e a gente olha pro espelho e a gente acha que, se a gente fosse eles, a gente olharia pra gente como se a gente fosse monstros.
É isso.
É isso, mas só que ninguém é monstro..
Mas só que todos são monstros.
Quando você não está dormindo mas deveria, você enxerga refletido no escuro seu próprio rosto desfigurado: carregado de todas as insatisfações, todos os tiques-nervosos, todas as merdas mesmo.
Nesse momento, debaixo do breu feio, a gente vira auto-carrascos, encapuzados, e a gente arranca fora a nossa própria cabeça.
Daí que acordamos umas mulas de pescoço sangrento; acordamos decapitados.
E é esse a gente decapitados que durante o dia perambula por aí, paranoicamente enxergando nos olhos dos outros o nosso próprio olhar de represália.

Nenhum comentário:

Postar um comentário