1.5.12

Sobre quem é áspero

Permanece de canto puxando pele dos lábios.
A boca sempre seca.
Não faz ideia se chove, se faz sol ou se o céu já pariu (ou não) estrelas.
A única informação que chega ao porão é a temperatura: solta fumaça enquanto respira.
Deve estar fazendo menos quarenta graus pelo menos!
Três camadas grossas de auto-piedade, de sentimentalismos, e o frio só aumenta.
Não faz ideia das horas... e tanto faz, se quer saber.
Tanto faz, que é sempre madrugada pra quem tem olhos embaçados de escuro.
Quando não é madrugada, é fotografia.
Perde-se o sol com imagens falsas, e perde-se a chuva com pensamentos tão falsos quanto.
As filosofias não procedem mais, já não faz mais questão de ter um tema forte a que concentrar os esforços cerebrais.
Só continua gerando frases aleatórias, pelo ato de gerar.
Feito o halterofilista que já não tem mais metas exceto levantar mais peso só para não ter que sentir os braços vazios,  feito o halterofilista que tem os músculos tão grandes que cobrem a cara e entopem o maldito nariz.
E aí escancara a boca, puxando o ar quase que com desespero, quase que tipo o peixe que caiu para fora do aquário.
É assim que a boca seca.
Permanece de canto puxando pele dos lábios.
Quanto mais puxa mais tem para puxar.
Tudo descarnado, tudo grosseiro, tudo feio.
Já não tem - se é que já teve - mais ares de menininha.

2 comentários:

  1. Copiei : )
    assim que tiver alguma coisa te mando...
    continua sempre que tá incrível.

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