12.6.12

Há um rombo enorme no chão... sempre...  a todo redor.
Cada um preso num ridículo e minúsculo centimero cúbico de gelo.. cada um se separando cada vez mais de cada um. Quanto mais o tempo passa mais indo pra longe cada um vai.

Sou só eu que vejo o grande fenômeno da separação?
Só eu que vejo essa pá de terra esmagadora comprimindo a gente no chão? Enterrando a gente antes da hora? Enterrando a gente na gente mesmo? Largando a gente cada vez mais pra longe... às margens dos pensamento-verdades que a gente gastou a vida elaborando.

Dizem que o mundo é pequeno, que já existe gente demais... mas acho que existe espaço o bastante pra cada ser humano levar uma vida inteira sem nunca sequer tocar realmente nenhum outro; acho que existe espaço o bastante pro meu ilhote gelado me levar para uma quina cada vez mais inospita e inabitavel. Sempre topo com quinas sem ninguém...

Existe uns momentos em que a gente acha (que burros!) que é possivel reverter tudo, que na verdade enquanto a gente se afasta do todo a gente se aproxima de algo ainda mais sublime que esse tal do todo... tipo o amor ou sei lá.
Que burros.... 
A gente só se afasta e pronto, sempre mais distante...
Não há recompensas, não há paraísos.

Hoje a minha noite é uma festa bombástica de esquecimentos.
Meu amigo me disse que a gente tem que entornar mesmo... mas entornar até esquecer!; que só tentar ficar bem não é o suficiente.
O esquecimento, para os que têm uma mutilação qualquer, é uma necessidade; um artefato básico de sobrevivência. Uma questão de sobrevivênia, cacete!

Mata o que te mata, enquanto ainda dá tempo.


O Deleuze falou que tudo que desaparece não faz falta.
E que se faz falta é porque ainda não desapareceu...
Minha pergunta é: não desapareceu do mundo o não desapareceu da minha cabeça?
Ou ambos?
Porque ainda faz falta, faz falta sim.. mas ah, se faz!

Deleuze, vinho, Luiz, tempo! : resolvam minha vida! Resolvam tudo, me dêem as respostas, assim, de bandeja; me deixem ser burra e preguiçosa. Já não quero - não posso! - mais ir procurar motivos nem filosofias.
Me dêem as respostas, porque eu já tentei de tudo.

Nunca fui garota de solucionar equações.
Minhas premissas, somadas, sempre terminaram em eternos pontos de interrrogação...
Zero para mim. Zero.
Não há resposta final, minhas conclusões são estúpidas manchas de lápis apagadas com borracha vagabunda, uma sobre a outra, sobre a outra, sobre a outra... o papel cada vez mais sujo e ilegível.

Não aguento mais essas misérias que são os questionamentos...
Uso como pesos de papel penas inúteis que voam com a primeira brisa que passar.
E se passam mesmo todos os furacões só para me atormentar e ressaltar a minha incompetência.


Não sirvo para chão. Não tenho solidez de tijolo.

"Certeza" me é, faz muito, apenas uma palavra; nunca me foi um conceito aplicável.

Escrevo porque escrevo, amo porque amo. Sou triste porque sou triste.
Não quero mais tentar achar razões.
Meu pedaço de gelo se desloca com força... existe opção? Não sei nadar e nem nada...
Queria que ele me trouxesse uma boia ou uma palavra - ou uma boiapalavra, quem sabe!
Mas ele não tem boias e menos ainda tem palavras. E no ilhote dele só cabe ele mesmo.

Dizem que o mundo é pequeno demais e que no mundo não tem espaço pra mais gente...
Mas acho que o mundo é embaraçosamente grande - desesperadoramente grande - e que o mundo e sua grandeza têm espaço sim para me afastar de tudo.... e para fastar tudo de tudo, ainda que esse tudo não note isso.
Um dia, com sorte, me afasto das memórias também... (tomara!)
Daí passo a viver na anestesiada sobrevivência a que os pastores de gente chamam de "sanidade"...  a anestesiada sobrevivência que eles tanto pregam com suas hipnoses disfarçadas.

E putz!, que triste:
Sanidade e verdade, agora vejo, andam se tornando cada vez mais opostos, cada vez mais mutuamente excludentes.
E mais dia menos dia viro boi também (em prol da minha saúde, né?).

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