Meu coração é uma pedra
dinamitada.
(Marco Lourenço)
Parte I - Cena.
Plau.
Cheiro de porcaria arrebentada.
A fumaça, o pó, sobem feito neblina cinza.
A fumaça, o pó, sobem feito neblina cinza.
Os pensamentos sobem (feito neblina).
Parte II - Premissa.
A quantidade de estradas que existe é inacreditavelmente infinita - tipo as estrelas: inacreditavelmente incontáveis.
E toda estrada (e toda estrela) sobre a qual a gente caminha (com a qual a gente sonha) é uma estrada recém-criada pelos nossos pés (desejo).
E apesar da gama deslumbrante de oportunidades e possibilidades a gente está sempre encoleirados, agrilhoados, na merda que é o caminho que a gente escolhe caminhar. E a gente sabe disso.
De ser o melhor caminho, o escolhido a dedo, ele se torna o destino encapuazado detentor da nossa mais frutrada repulsão. É aí a gente começa a cuspir nele, revoltadíssimos...
Porque todas as outras hipóteses viraram impossíveis, todas as hipótese não escolhidas serão só vontade mesmo. Pra sempre.
A hipótese que a gente escolhe transforma o infinito no unidimensional entediante. É por isso que ele, seja o que for, é digno do ódio.
A hipótese que a gente escolhe transforma o infinito no unidimensional entediante. É por isso que ele, seja o que for, é digno do ódio.
Parte III - Interlúdio.
[ Hipótese. Do grego: qualquer merda; Da realidade: fantasiar com o lado B. ]
Meu coração é uma pedra arrebentada.
Me sento no meio fio e tento arrancar - fracassadamente - todos os cabelos da minha cabeça.
Quero me arrancar de mim. Quero me estourar em farelos tão pequenos quanto os farelos do meu miocárdio babaca.
Parte IV - Diálogo.
- Como que faz pra deixar a armadura no chão e se tornar leve o bastante para ultrapassar as tropo-at-estratosferas?
- Não dá... acho que se a gente ultrapassa elas a armadura queima....
E a gente também.
- Maravilha, me coloquem numa catapulta já!
Parte V - Epílogo.
Há dois aspéctos básicos que envolvem todo o desespero do homem e todas as coisas ruins que ele sente e é capaz de sentir:
1) Tudo isso é a prole do medo;
2) Todo medo tem a ver com perda e toda perda tem a ver com necessidade e toda necessidade tem a ver com querer muito.
Por trás de toda angústia há a consciência clara do que é bom e feliz - (aliás, eis a causa de sua existência.)
Só o homem em desespero já esteve de fato no olho da calmaria... e quem nasceu na fome não sabe o que fome é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário