2.7.12

Casa do Sol Nascente

Acordo depois de sentir o breu socar o pulmão no fundo.
Tudo cheira a abandono, as mãos acalentadoras de ontem ficaram no ontem mesmo... como tudo: o ontem pega tudo para si.
A Casa do Sol Nascente é o lugar pra onde a gente vai quando a gente sabe que as sementes dos dentes-de-leão que tinha aqui quando a gente nasceu foram todos para o brejo já.
A Casa do Sol Nascente é o lugar onde um campo de dentes-de-leão aguenta qualquer vento.
Esquisito é que sonhei que eu sentava na grande avenida da tal da Casa do Sol Nascente e chorava alto enquanto eu mesma pisoteava todos eles e não deixava nenhum de pé.
Nenhum campo aguenta o pé do próprio jardineiro.
No final só sobravam as hastes, tortas, e meu coração latejante enterrado num buraco.
Quanto mais os anos envelhecem minha pele mais poder eu tenho, mais pedras carrego na minha coroa...
Mas nunca fui hipócrita: vejo a coroa descer, cada vez mais fundo pela minha cabeça, e se enterrando no meu pescoço.
A minha coroa, a coroa da rainha que é livre porque pode, no fim será minha coleira e minha bola de ferro. As hastes dos dentes-de-leão que eu sei que vou pisotear (sei, porque obedeço meus sonhos) terão ares de espinhos perfurando minha sensatez.

Sinto, com a suavidade da camada superficial do mar que uma brisa fraca empurra, minha moral definhando em gangrena e sinto medo, muito medo, do cheiro que ela tem soltado...

A Casa do Sol Nascente é a única esperança para os marginais como eu, mas alí ninguém entra de graça.
E eu e o resto deles já começamos a pagar tomando porrada do breu e do próprio irreconhecimento, começamos a pagar com lascas das leis que a gente mesmo alicerçou pelo caminho. Com lascas de nós.

Penso: é destino virar aquilo que a gente odeia?
Porque eu ando caindo em tudo o que um dia chamei de "buraco".

Nenhum comentário:

Postar um comentário