6.7.12

Diário Solar e de Calçada I

Vai, senta na beirada do sol.
A corona espalha e embaralha os pensamentos, a corona ateia fogo aos pensamentos.
E queimar tudo, jogar tudo para o chão é a única possibilidade de respirar de novo.
Senta na beirada do sol e espera.
Desesperado é aquele que já não espera mais e esse você achava que era você, mas tua pose de mármore com o rosto suportado pelas mãos te contradiz.
Senta na beirada do sol enquanto o sol ainda roda, a manivela não é a gente que gira - não existe manivela - e a gente nunca sabe quando é que ela vai parar.
Senta na borda da penumbra e vive o lado claro e o lado escuro ao mesmo tempo.
É permitido ser dois em um. É permitido ser um milhão em um. Todo saco de carne tem um avesso.
Talvez ser multidão faça o coração pesar como chumbo, talvez ser multidão ocupe espaço demais e talvez o destino de quem é multidão é ser sozinho na própria pluralidade, simplesmente porque não tem tempo para outras pessoas que não as próprias inquilinas cerebrais.
Ser sozinho é uma característica estrutural da nossa espécie, não se surpreenda da sua solidão e nem a considere qualquer coisa de especial. A solidão é comum, comum como sangue e, como sangue, qualquer um se aflige de ver a sua própria saltando corpo afora mesmo que seja a coisa mais óbvia do mundo.
(Quando é que o homem aprende a não se espantar de si?)

Vai e senta no penhasco com os pés balançando frágeis e vulneráveis, e que se dane.
Talvez você caia, talvez você fique.  (Qual dos dois é pior?)
O sol te deu uma beirada, uma bela de uma margem, uma trégua entre o coração efervescente e o gelo espacial.
E se prostrar diante dele é um belo de um treino pra quem pretende um dia pendurar os pés para fora de si mesmo.

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