31.7.12

Madrugário

Um barco de luz pairando no escuro.
Corro olhando pro chão, evitando os holofote-facas que querem me perfurar os olhos.
Eu corro e descubro que acelerar as pernas é desacelerar os pensamentos.
Meu cérebro lacrimado e transmutado em madrugada lateja, desacostumado com essa inércia nova que vem de dentro.
Vira tudo uma névoa, com cheiro de madeira. Gosto desse cheiro.
Fecho os olhos e entorno uma taça inteira de rio dentro da caixa que guarda o coração que disseram que é o meu. (Mas nunca sei se ele é meu mesmo.)
Aí paro pra sentir o universo e então duvido se existe mesmo uma Lua de verdade, acho que é uma lenda, acho que é tudo holofote dos homens e nada além disso.
Tudo o homem, sempre ele, sempre ele só.
(Ou então são meus olhos que, perfurados, desaprenderam a discernir o mundo.)

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