1.8.12

Considerações a respeito do monstro

O monstro no peito é praticamente só uma boca gigante, sempre gritando com ódio (e chorando) que não está satisfeito.
Mas o monstro só sabe dizer essa palavra: insatisfeito.
O vocabulário do monstro acabou aí e o monstro é surdo, além do mais... não sabe ouvir a gente perguntar o que é que tanto falta pra ele.
A gente chora junto, porque a gente têm a pele fina e porque tudo na gente faz osmose pelo mundo afora.
Se uma pedra é dura, a gente endurece também; se o sol é quente, a gente queima; se a Lua se esconde a gente se retrai.
E o monstro chora, é só isso que ele faz... por isso quando a gente olha pra ele e enxerga a fome que ele tanto sente a gente só chora, chora, chora também...
A gente senta no meio fio e não consegue nem pensar direito, feito uma mãe que não sabe curar o filho e que por isso se desespera.
Só que o filho em questão é um filho que não dá pra parir e nem parar.
Um coisa presa dentro que a gente não sabe como foi que foi nascer alí.
Uma coisa que deve ter nascido junto com a gente... uma coisa que é quase que a gente (mas só que não) feito fosse nosso cérebro, nosso coração, nosso estômago.
Feito fosse um tumor. Só que imaginário - e incurável.

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