25.9.12

Diário de calçada e fome de olho


Esmiucei os dias em um só: longo, arrastado, eterno.
(Os dias só existem pra criatura que dorme e acorda - na cabeça dela.)
A única manhã que já existiu fora aquela em que nasci e a única noite será aquela em que me faltar sangue soprando pensamento na cabeça.

Vejo o dia comendo o rabo do seguinte: eles são a mesma coisa. São feito a lagartixa que achava que o rabo fosse minhoca e quis provar... quando a cabeça começa de novo ainda é ela.
Vejo tudo com o olho do pensamento - que o olho da cara não serve muito ao intento dos malucos.
E afinal o que é um olho senão uma bola cheia de frescuras que se a gente fosse corajoso poderia arrancar fora com um puxão? A fragilidade das nossas fortalezas...
Eu queria comer meu olho que era pra saber se ele tem uma mágica em especial que vai contaminar minha língua ou se ele é só isso mesmo: essa droguinha de carbono e sei lá mais o que.
Eu sou uma droguinha de carbono e mais uma meia dúzia de substâncias que bosta de vaca também tem.
Não sei de onde o homem tirou a ideia de que é mais nobre que um sapato, um avestruz ou uma lasca de granito.
Ou tudo é nobre junto ou nada é nobre junto.
Tudo é a mesma coisa e a vida corre pelo dorso de um único dia que tem alternância de matizes e luzes e nada além de alternância de matizes e luzes.

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