29.10.12

Diário de Calçada a Esmo

Você vai até a rua cheio de propósitos nenhuns. Você entra em todas as lojas, olha todas as coisas, quer todas as coisas, não quer nada. Não compra.
Você recolhe as bitucas de cigarro com os olhos: não são mais do que qualquer outra coisa.
Todas essas pessoas do meio-fio. Você mesmo. Todos.
Sugar sugar sugar tudo o que há de tudo, até enjoar.
Jogar fora (antes de acabar) com um peteleco.
E todos parecem bastante satisfeitos e as bitucas de cigarro por sua vez não parecem se importar nem minimamente. Mas você sim. Você se importa. Você cultiva um ódio e um amor profundo a tudo isso.
O ódio e o amor dos marginais...
Sobe uma identificação completa com as bitucas de repente, descartadas e irrelevantes.
Aliás, você está mais para bituca do que pra ser humano ultimamente, conforme confirmam os reflexos das vitrines.
Mas continua tendo essas duas pernas esquisitas que vão se movendo já autonomamente por aí e é por isso que continua entrando e saindo das lojas mesmo não querendo, tentando chegar a algum lugar mesmo sabendo que não há nenhum lugar, que não há nada.
Deve ser por causa das pernas.

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