6.11.12

Diário de Calçada e Manipulação de Cena

Todas as cidades e todos os cantos são a mesma quina: um buraco onde um homem cansado joga meia dúzia de lágrimas de repente vira o pedestal onde um homem fervoroso em si planeja ser o superman.
Eu sentei nesse mesmo pedestal, nesse mesmo buraco, e catava umas ervas daninhas que subiam do esgoto e pensava que daninhas em certo caso podem ser as salvadoras da cena e tudo o mais.
("E tudo o mais."
E o que é que é o tudo o mais?
Eu nunca sei.
O que é que há de mais além das ervas daninhas e um buraco que entra pelo chão carregando as coisas que a gente não quer ver?)
Eles falam pra gente que a gente deve encher a cabeça, pensar no que é fácil pra poder praticar o esquecimento daquilo que é difícil... e eu que sempre planejei perder as coisas-espinhos que acertavam minha cabeça, subitamente me senti ofendida quando eles me ofereceram o manual.
Eu não quero ser o homem que chora o cansaço, nem o homem que tem uma escada imaginária saindo da própria cabeça até as estrelas; eu quero ser a pessoa que vê a erva daninha e o bueiro, o muro que se espreme entre os prédios e encerra o beco, o pedacinho magricelas de céu que vem lá no final desses prédios e as Três-Marias quase apagadas que pela sorte se encaixaram alí e que continuarão longe porque eu não tenho uma escada.
E depois que eu me levantar e for embora um mendigo ou uma garotinha perdida vão tomar o meu lugar e pensar numa casa ou em um balão ou em mim, e as minhas ervas daninhas vão desaparecer a partir daí até que eu volte.

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