3.12.12

Sobre a Inércia das Nuvens e Adiamento

Hoje o céu é de nuvens estáticas, maciças e rosadas.
Elas fazem o contorno pelas quinas do quadro que os meus olhos captam, como se fossem lagartas no ponto máximo dessa fase.
E eu: ando mas não me movo.
Como houvesse uma esteira sob os meus pés, a paisagem é um cenário bonito demais e repetido demais pra ser de verdade.
Não sei por que as árvores são tão brancas hoje... é quase como se nem existissem mais.
Quase como se houvesse ali só um buraco de algo que foi arrancado, descolado... me lembram aquilo tudo que eu tinha dentro do peito: sobrou só o espaço onde esse tudo deveria estar.... talvez esperando pelo triunfal retorno ou talvez simplesmente tentando me fazer lembrar.
E sobre lembranças, me lembro bem de uma que não diz respeito ao passado, mas sim ao dado momento.
Aquela lembrança que a gente tem sobre algo que a gente deveria estar fazendo mas não está, ou sobre um lugar que existe sem nós, em paralelo... ou, igualmente, sobre uma pessoa paralela, dessas com quem a gente queria congruir  (queria muito) e fica por isso lembrando dela o tempo todo e imaginando o que ela está fazendo... e isso é o momento presente construído por uma colcha de retalho de memórias e saudade, e pode até ser um pouco mentira... mas e daí?
Eu me lembro bem do jogo de xadrez que ficou suspenso no ar porque eu não quis, e ainda não quero, fazer a minha próxima jogada.
Me lembro que deixei minha Rainha desprotegida e que não tem mais muita salvação.. e que, mesmo se tiversse uma salvação, vai ser só a prorrogação pra um outro desastre qualquer... e é tudo só uma questão de saber entender se coragem é assumir o fim e as nossas falhas ou se coragem é continuar tomando uma surra do oponente e, depois de cada derrota, ainda pedir um bis.

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